O ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderia estar no nirvana. Há seis anos no cargo, Mantega acumulou força e prestígio ao atravessar – até agora – de forma bem-sucedida a maior crise da história recente do capitalismo mundial, desencadeada pela quebra do banco Lehman Brothers em 2008. No ano passado, Mantega pilotou uma manobra de pouso suave da economia brasileira, que afastou os riscos de um superaquecimento e da volta da espiral inflacionária e iniciou um processo de redução das altas taxas de juros. Apesar disso, Mantega vem, em 2012, acumulando problemas no Ministério da Fazenda – e eles não estão relacionados à excessiva valorização do real ou aos efeitos da crise do euro. O mais explosivo deles está relacionado a uma disputa interna por poder em duas instituições, o Banco do Brasil (BB) e a Previ (o fundo de pensão dos funcionários do BB), que, por ser abarrotadas de recursos, só deveriam ser fontes de boas notícias para o governo.
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Adelmir Bendine |
A disputa por poder – que se arrasta há algum tempo entre facções lideradas pelo presidente do Banco do Brasil, Adelmir Bendine, e o presidente da Previ, Ricardo Flores – transbordou para as páginas dos jornais e ganhou contornos de uma briga de rua, com dossiês e outros golpes sujos. Na terça-feira, o jornalFolha de S.Paulo publicou informações bancárias sigilosas do ex-vice-presidente de Negócios Internacionais do BB Allan Toledo.
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ricardo flores |
Segundo investigação atribuída ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Toledo recebeu quase R$ 1 milhão provenientes de uma conta de uma aposentada em 2011. A reportagem sugeria que a aposentada fora intermediária no repasse de recursos de um sócio de um dos donos da Marfrig, frigorífico que contraiu empréstimos no Banco do Brasil e onde trabalha um irmão de Toledo.
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Allan Toledo |
De acordo com Toledo, a aposentada é Liu Mara, sua mãe adotiva. Toledo afirma que Liu Mara tem câncer e que o montante depositado em sua conta é resultado da venda de um imóvel em São Paulo. Os depósitos, segundo Toledo, foram feitos para que ele administrasse o uso dos recursos num tratamento de saúde de Mara. Mesmo com a investigação atribuída ao Coaf, existem suspeitas de que as informações sobre a conta tenham vazado diretamente do BB com o objetivo de lançar dúvidas a respeito da legalidade do dinheiro e de colocar Toledo em situação delicada. No fim do ano passado, Toledo foi exonerado logo após ÉPOCA revelar que o BB decidira investir mais de R$ 2 bilhões para administrar o Banco Postal, ligado aos Correios, sem contratar um parecer chamado “fairness opinion” – um documento normalmente usado para dar respaldo ao negócio. Toledo passou a ser rotulado, por aliados de Bendine, como um dos responsáveis, com Flores, por tentar enfraquecer Bendine a ponto de substituí-lo
Inconformado com a divulgação de detalhes de sua vida financeira, Toledo disse que foi usado na guerra entre Bendine e Flores e anunciou um processo contra o banco. Na quinta-feira, numa entrevista coletiva sobre o assunto, Mantega afirmou que não foi orientado pela presidente Dilma a promover substituições no BB ou na Previ e disse que essa é uma crise baseada em “fofocas”. Mas ele não menosprezou completamente o episódio e disse que está preocupado com possíveis desdobramentos da crise tanto nos resultados do banco como no fundo de pensão. Mantega exigiu também a abertura de uma sindicância para averiguar o possível vazamento das informações.
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