quarta-feira, 25 de julho de 2012

Moradores de seis bairros reclamam da falta de água em Alagoinhas-BA




Pelas mãos de Maria de Lourdes Passos, 67 anos, passaram as roupas das famílias mais distintas de Alagoinhas. Calças, camisas, lençóis lavados ao longo dos anos com a mesma água que usa para o consumo.

A água limpa, pura e de qualidade que brota no solo de Alagoinhas - localizada no aquífero de São Sebastião, área que possui 7% de toda água do Recôncavo Baiano - atrai várias indústrias de bebidas para a cidade. Na última semana, o grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, anunciou sua ida para a cidade que já tem uma fábrica da Schincariol e receberá também a Indústria São Miguel (ISM). Há pretensões da ida da Coca-Cola e do grupo Tropical para a cidade.

O segredo está no solo arenoso, que faz uma espécie de filtragem e purifica a água.






A abundância e a qualidade do recurso natural para as empresas de bebidas, porém, não é a mesma para a população. Moradores de pelo menos seis bairros visitados pelo CORREIO (Barreiro, Alecrim, Santa Terezinha, Alto do Santo Antônio, Alagoinhas Velha e Jardim Petrolar) relatam constantes interrupções no fornecimento na cidade.

“Pago minha conta todo mês, mas todo final de semana falta água aqui. Tenho que juntar os baldes, vasilhas para colocar a água, porque sempre falta”, reclama a lavadeira Maria de Lourdes, que mora no bairro Santa Terezinha e paga, em média, R$ 45 por mês.

O segurança Artur Santos Lima também tem que dar um jeito. “Tenho que encher as garrafas, porque não tem água aqui, não. A água é muito boa, mas não chega para a gente”, diz ele, que mora no Alto do Santo Antônio.




Moradora do mesmo bairro, Eliete Bispo Silva Santos reclama da falta de manutenção. “As fábricas gastam muita água e falta pra nossas casas. Quando quebra algum cano ou alguma coisa é um caos. Demora muito para consertar e a gente fica sem água”.

Abundância - As indústrias de bebida, por outro lado, não se queixam de nada. Pelo contrário. O gerente geral da Indústria São Miguel, Guilherme Soares, empresa que investiu R$ 50 milhões na criação de fábrica em Alagoinhas para produzir bebidas, indica que a renovação do aquífero de São Sebastião favorece a área como polo industrial. “Há uma alimentação constante, sem riscos de desabastecimento a longo prazo”, diz. 



O diretor de Relações Institucionais da Schincariol, José Francischinelli, reforça: “A quantidade e a qualidade da água foram alguns dos principais motivos pelos quais a Schincariol instalou a fábrica no local”, explica.

E a própria prefeitura reconhece que água é o que não falta. “Projetando o acréscimo de consumo atual, com o advento de novas indústrias – fábrica de refrigerantes São Miguel, cervejaria Itaipava, duplicação da Schincariol e o aumento natural de consumo doméstico -, seguramente não chegará ainda a 25% da potencialidade do sistema aquífero do município”, diz a administração municipal, em nota.




Então, por que falta água para a população desses bairros enquanto as indústrias não têm problemas?

Em primeiro lugar, segundo a prefeitura, as indústrias têm seus próprios sistemas de captação e abastecimento de água, independentes do sistema municipal - o que lhes dá autonomia e garante o abastecimento constante. Por outro lado, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Alagoinhas (Saae), responsável pelo abastecimento da cidade, usa uma rede envelhecida.

(Matéria publicada no Correio da Bahia)

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